Faixa etária
Como é de conhecimento do leitor, amo escrever crônicas. Em Faixa etária, narro (de maneira bastante figurada) uma situação que vivenciei. Caso não entenda o humor do texto, comente ou escreva-me (e consulte um dicionário). Abraço!
“Etária” é uma palavra que vem do latim, aetas, que significa idade. A expressão “faixa etária”, então, refere-se a uma margem de idade, todo mundo sabe disso. Bom, pelo menos era o que Cléber achava...
Cléber havia pedido Judite em namoro há poucos meses, era o primeiro relacionamento de ambos, ainda nem se chamavam de “amor”. Eram um casal lindo, apaixonadíssimo, conversavam todos os dias pelo celular e se viam sempre que possível.
Nas férias, a família do rapaz fez uma viagem à praia e sua namorada não pôde acompanhá-los. Foram cinco longos dias de intensas trocas de mensagens, a saudade já estava passando dos limites.
Assim que chegou de volta a sua cidade, Cléber disse a Judite que se arrumasse, pois a levaria ao shopping para jantarem em uma hamburgueria super aclamada que um amigo havia recomendado. A moça gostou da ideia, já que, além de querer rever o amado, precisava comprar um presente a uma amiga que faria aniversário no fim de semana.
Antes de comer, decidiram ir a uma bijuteria e procurar por algo interessante. Viram incontáveis anéis, pulseiras e colares e amaram quando encontraram a sessão de descontos. Eram ótimos preços, mas escassas opções, então pediram a ajuda de uma funcionária, que prontamente os atendeu:
-“Pois não, em que posso ajudar?”
-“Então...” Disse Judite. “Gostei muito dos valores desses aqui, será que você não tem nenhuma outra opção nessa mesma faixa etária de preço?”
Cléber ficou desacreditado. Como assim “faixa etária de preço”? Ele segurou o ímpeto de corrigir a namorada, a intimidade ainda não era tanta, e se coçou internamente enquanto lançava um sorriso amarelo para Judite e para a vendedora, que claramente notara a gafe.
-“Não, infelizmente, não temos.”
Saíram da loja, passearam mais um pouco e acabaram por não comprar presente nenhum. O jantar foi maravilhoso, comeram super bem e tiraram várias fotos para a rede social.
Meses foram se passando e Cléber não conseguia esquecer a frase da namorada. Sempre que conversavam, o tempo congelava e ele só ouvia Judite repetindo: “faixa etária de preço”; toda vez que a moça se aproximava para beijá-lo, ele fechava os olhos e lhe voltava à mente: “faixa etária de preço”. Era inevitável. Será que ela não entendia que se a faixa era etária ela não podia ser de preço, só de idade? Que dissesse “faixa de preço” ou qualquer coisa parecida.
Ainda assim, o rapaz seguia sem coragem para comentar com sua parceira até o dia em que estavam assistindo a um vídeo no qual um vendedor soltou: -“Aqui é ótimo, pessoal! Super acessível, tudo nessa mesma faixa etária de preço!”
Desta vez, Cléber não pôde se conter, já era demais. Seus olhos reviravam e ele precisou dizer:
-“Nossa, amor, ‘etário’ é de idade, né? Não tem como uma faixa etária ser de preço.”
-“É mesmo, amor, como ele fala uma coisa dessas?” Respondeu Judite rindo. Então ela sabia! O jovem não conseguia interpretar seus próprios pensamentos, era um misto de alívio e dúvida. Haveria sido uma desatenção o evento do shopping? Estaria ela falando algo só para concordar?
Cléber abriu o jogo e contou a Judite todas as angústias que guardava desde o fatídico episódio. A moça riu bastante, apesar de ter ficado um pouco sem graça: -“Eu disse isso, amor? Você deve estar se confundindo.”
-“Ah! Disse, tenho certeza”
-“Deve ter sido sem querer, nem me atentei.”
-“Deve mesmo, amor.”
Para desviar o foco, Cléber a convidou a voltarem à hamburgueria e esquecerem o assunto. Quando estavam prestes a sair, viram que não havia mais reservas disponíveis.
-“Vamos mesmo assim,” disse Judite. “quem sabe não conseguimos um encaixe. Tomare, né?”
Tomare, né? KKKKKKKKKKK, que mané.
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