O silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras
Você sabia que o Brasil é um país extremamente rico em poesias? E eu não me refiro apenas a nomes de peso, como Vinicius de Moraes, muito menos a poesias com métrica perfeita que levaram longos períodos de tempo para serem escritas. Claro, as obras deste tipo são incríveis e dignas de enorme apreciação, mas muitas pessoas não sabem que poesia abrange muito mais.
A poesia pode não conter palavras organizadas de forma gramatical (frases gramaticais=organizadas de acordo com os padrões da gramática normativa fazendo sentido), mas apenas palavras "jogadas" no papel de forma irregular de modo a estabelecer sentido entre si e despertar sentimentos no leitor.
Poesias também podem ser cantorias ou rimas, assim como nessas batalhas de rap. Podem, ainda, ser os tradicionais "repentes", tão famosos no Brasil (principalmente em alguns estados do Nordeste, como em Pernambuco). Para quem não conhece, são poesias ritmadas inventadas na hora, ou seja, improvisadas, que dizem respeito a alguém ou a algum tema específico. Inclusive, se você ainda não teve a oportunidade de apreciar esta parte tão rica da cultura do nosso país, corre e procura na internet!
No ano passado (2018) foi lançado um documentário dirigido por Petrônio Lorena que mostra a vida de pessoas que vivem a poesia diariamente e ele é muito bom! Duvido que você não vai ficar boquiaberto com a genialidade dos rimadores. São de uma perspicácia, rapidez e de um vocabulário incríveis. Recomendo, então, que assistam a esse filme que se chama O silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras, mas atenção: ele é indicado para maiores de 16 anos!
A seguir estou disponibilizando uma resenha que fiz sobre o longa-metragem.
Auxílio de: Revista Continente e filme O silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras.
A poesia pode não conter palavras organizadas de forma gramatical (frases gramaticais=organizadas de acordo com os padrões da gramática normativa fazendo sentido), mas apenas palavras "jogadas" no papel de forma irregular de modo a estabelecer sentido entre si e despertar sentimentos no leitor.
Poesias também podem ser cantorias ou rimas, assim como nessas batalhas de rap. Podem, ainda, ser os tradicionais "repentes", tão famosos no Brasil (principalmente em alguns estados do Nordeste, como em Pernambuco). Para quem não conhece, são poesias ritmadas inventadas na hora, ou seja, improvisadas, que dizem respeito a alguém ou a algum tema específico. Inclusive, se você ainda não teve a oportunidade de apreciar esta parte tão rica da cultura do nosso país, corre e procura na internet!
No ano passado (2018) foi lançado um documentário dirigido por Petrônio Lorena que mostra a vida de pessoas que vivem a poesia diariamente e ele é muito bom! Duvido que você não vai ficar boquiaberto com a genialidade dos rimadores. São de uma perspicácia, rapidez e de um vocabulário incríveis. Recomendo, então, que assistam a esse filme que se chama O silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras, mas atenção: ele é indicado para maiores de 16 anos!
A seguir estou disponibilizando uma resenha que fiz sobre o longa-metragem.
Imagem retirada da Revista Continente online. Disponível em: <https://www.revistacontinente.com.br/secoes/curtas/o-silencio-da-noite-e-que-tem-sido-testemunha-das-minhas-amarguras>
Resenha de O silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras
O longa metragem de Petrônio Lorena lançado no último ano, O silêncio da noite é que tem sido
testemunha das minhas amarguras, mostra o cotidiano de algumas cidades na
divisa de Pernambuco e Paraíba (São José do Egito (PE), Ouro Velho (PB), Prata
(PB) e São Francisco (PB)), repleto de poesia.
O telespectador que vê as imagens
do vilarejo de São José do Egito, em Pernambuco, pela primeira vez pode até ter
um olhar de compaixão ou desprezo, já que o lugar é bastante humilde, sem
rebuscas e pobre fisicamente. Mas engana-se esta pessoa. O documentário retrata
de forma real e penetrante as vidas dos cidadãos que têm a poesia como parte de
si e de sua história e faz o expectador perceber que, na verdade, o lugar é
rico de arte e cultura.
Os habitantes das cidades em foco no
filme têm apego e identificação com sua terra difíceis de serem explicados através
de palavras e conhecem e vivem sua cultura de poesia diariamente. Sejam
repentes, poesias escritas, ou ‘batalhas de sextetos’, a mentalidade do
improviso chega a parecer algo inato aos rimadores e a métrica bem detalhada e
com exímio na forma (influência parnasiana) são impressionantes e bem
demarcados.
É dado um “mote”, ou tema, que pode
fazer menção a assuntos diversos, como: amor, vida cotidiana, apego à terra,
natureza, rivalidades ou promiscuidade e o(s) artistas(s) começa(m) a rimar,
quase sempre embalados pela cachaça que, segundo eles, solta a imaginação e
desperta os sentimentos. Poesias muito bem organizadas e com rimas perspicazes
soam quase instantaneamente da boca dos rimadores, despertando uma série de
sentimentos nos ouvintes. A métrica mais utilizada é a do sexteto, na qual o
primeiro e o último verso rimam um com o outro e, na opinião dos próprios
repentistas, torna mais fácil a organização dos pensamentos.
O filme ocorre em um período de 24
horas, em um sábado, para ser mais exato, iniciando-se na feira e terminando na
madrugada. Lorena visa a mostrar que a lírica está presente em locais e
momentos variados ao longo de todo o dia: conversas em bares, barbearias, rodas
de conversa, bate-papos em casa, festivais e até em galanteios ou mimos.
É válido ressaltar, todavia, que nem
sempre a profissão de cantante foi bem quista, nem mesmo nestas cidades. A
escolha de uma profissão era bastante restrita. Se não abrisse um pequeno
comércio, a pessoa trabalhava no campo ou se tornava rimador, mas quem resolvia
viver da arte era tido por muitos como vagabundo, dono de uma vida de boêmio.
Mas, com o passar dos anos, tal visão foi sendo diluída e, inclusive, muitos poetas influenciam seus parceiros de profissão e isso colabora com a vitalidade
desta.
Salienta-se aqui o trabalho de
alguns dos grandes nomes da poesia nordestina, donos de um legado inestimável e
autores de obras que até hoje continuam na boca de seus conterrâneos. São:
Pinto, Job Patriota (foi quem revitalizou a apresentação de sextetos
acompanhados do violão), João Batista de Siqueira (ou apenas Cancão), Zeto (foi
quem propôs a troca de poesias em mesas de bar), Furiba, Louro Branco (é quem
dá nome à “Festa do Louro”, que reúne diversos rimadores que se apresentam para
a população) e Severina (“musa”, “estrela” e autora da poesia que contém a
célebre frase que intitula o filme em questão).
Outro ponto relevante é que as
mulheres, apesar de não serem maioria, possuem também destaque na poesia e
rimam, cantam e se apresentam ao lado de seus parceiros do sexo oposto.
O longa de Lorena, muito bem
dirigido e de um tema para deixar qualquer um boquiaberto, é, enfim, contra a
pressa do dia-a-dia e a favor da humanização e do embelezamento da vida,
deixados muitas vezes de lado na realidade globalizada e apressada na qual
vivemos.
Por Samuel Reis

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