Crônica - Dia de Copa!

   Como eu disse antes, o gênero textual crônica é o que mais gosto de escrever. Recentemente, fiz uma com base nos sentimentos despertados pela partida inicial da seleção brasileira na última Copa do Mundo. Intencionalmente, incluí diversos elementos sintáticos, semânticos e estilísticos sobre os quais posso comentar caso haja interesse, basta me chamar. Deixem, por favor, seu feedback nos comentários.


Fonte: <https://www.google.com/amp/s/www.cnnbrasil.com.br/esporte/richarlison-camisa-9-selecao-brasileira-copa-do-mundo-2022-catar/%3famp> acesso em 2 de janeiro de 2023.

Dia de Copa!

    Como todo brasileiro, João amava quintas-feiras. Elas antecedem as sextas, o que praticamente significa que o fim de semana chegou. O problema delas é que vêm depois das quartas, dias de jogos do campeonato brasileiro, então ele acordava ainda mais cansado após a festa do dia anterior.

    Dessa vez, todavia, João estava ainda mais animado. Fora dormir cedo na noite anterior, já que o brasileirão tinha chegado ao fim e seus únicos compromissos futebolísticos vinham sendo diurnos (durante o expediente, inclusive). A copa do mundo havia começado e o rapaz vinha se esforçando arduamente para não perder cada detalhe dos grandes confrontos entre Equador e Qatar, Marrocos e Croácia ou qualquer outro que a tela da Globo estivesse mostrando.

    Ainda assim, nenhuma dessas partidas era tão importante quanto a de quinta-feira. Era a estreia do Brasil! Era o momento pelo qual ele mais esperara nos últimos quatro anos, desde a vexatória eliminação para a Bélgica em 2018. Havia algo no futebol que fazia João levar cada emoção ao extremo: ele se tornava o melhor amigo de seu pior inimigo e brigava com o próprio irmão caso os assuntos da bola gerassem necessidade, era uma paixão inexplicável.

    Ele se levantou, vestiu a camiseta da seleção (o chefe permitira que todos os funcionários a utilizassem em dias de jogos do Brasil), tomou um café da manhã bem reforçado: guaraná e duas tapiocas, e seguiu sorridente o dia todo. Cumprimentou a todos no caminho até o ponto de ônibus, disse ao frentista que ficasse com o troco, cedeu lugar a todas as senhoras em vez de fingir dormir, como costumava fazer, e foi saltitando da parada até sua mesa no escritório.

    À hora da partida, pintou o rosto de verde amarelo e vestiu uma peruca com as cores da bandeira. Foi correndo até a casa da mãe e abraçou todas as tias de quem falava mal por mandarem figurinhas de bom dia às cinco da manhã no grupo da família e os priminhos para quem revirava os olhos quando faziam birra. Dia de Brasil na copa!

    Todos os desaforos que precisasse aguentar não seriam nada se pudesse comemorar seu país campeão. Junto aos parentes, vibrou, gritou, entoou cada canção e ficou fora de si quando Richarlison abriu o placar: pulou, comemorou, abraçou a avó e ficou até rouco. Quando o segundo gol saiu, então, com aquele voleio inimaginável, João enterrou a pouca dignidade que lhe restava e deixou a união prevalecer: berrou, pulou enquanto corria em círculos pela sala, derrubou um copo de refrigerante e fez juras de amor ao centroavante artilheiro, que momento feliz!

    João voltou para casa ainda em êxtase e foi dormir animado. No dia seguinte, quase perdeu hora, estava exausto; ainda assim, muito contente. Correu até o ponto de ônibus e quando o circular chegou, entrou, sentou-se no primeiro assento livre que encontrou e foi assistindo aos melhores momentos do jogo do dia anterior no celular. Algumas ruas adiante, viu uma senhora dar sinal. Imediatamente, guardou o dispositivo, fechou os olhos e fingiu sono profundo. Estava cansado demais.

Por Samuel Reis.

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