Reunião de pais
Nesta crônica, falo um pouco sobre uma experiência que tive durante a primeira reunião de pais de que participei enquanto docente. Use um pouco de seu bom humor e aprecie a história. Seu comentário será bem-vindo!
Desde bem jovem sonho em ser professor. “Cuidar de criança, Samuel?”
“Que dó, pagam tão mal...”
Essas são algumas frases de que me cansei de ouvir, esses doces
e motivadores comentários que surgem em
conversas cotidianas sem nada a agregar além da chateação.
Particularmente, nunca me deixei levar, segui estudando e consegui meu primeiro trabalho como docente. Tudo seguiu às mil maravilhas até minha primeira reunião de pais.
Poxa! Sempre esperei por esse momento: sentar frente aos familiares de meus alunos, entregar os boletins, sanar dúvidas, apresentar as observações de comportamento... Será que eu teria a eloquência necessária? Será que haveria algum desentendimento? Meu coração batia acelerado, minhas mãos gelavam...
Sentei-me tentando manter uma postura que misturava simpatia e seriedade e aguardei durante longos minutos a chegada do primeiro pai.
-Boa tarde! Tudo bem?
-Tudo, sim, professor!
Seguimos o script perfeito de uma reunião escolar até o senhor desembestar a falar. Senti-me mais psicólogo do que docente, eram tantas dúvidas, tantos desabafos. Permaneci sério, mantendo o silêncio enquanto ouvia, e me esforcei para não perder o contato visual, seguindo orientação de minha coordenadora.
O dia era frio e estávamos a uma distância razoável um do outro, não vestíamos máscaras. Infeliz comodidade nos deixou a pandemia: por trás do pano que nos cobria o nariz e a boca, acostumei-me a fazer mil e uma caretas e a constantemente lamber os lábios para hidratá-los.
Em uma curta fração de tempo cometi o grande deslize: sem desviar meu olhar do fundo dos olhos do homem, sobrancelhas franzidas em seriedade, lambi meus lábios ressecados pelo clima. Ele ficou desconsertado. Eu mais ainda! Não sabia se ria, se fazia algum comentário bem-humorado, se me desculpava ou se fingia que nada acontecera, que um ar de desconforto não pairava no ar.
Optei pela última e rapidamente aquele pai finalizou sua fala. Respondi seus questionamentos e nos cumprimentamos. Sempre que o vejo me volta a cena à cabeça e apenas aceno de longe baixando pescoço. Ambos sabemos que um dia o encarei com expressão penetrante, tendo faltado uma mexida no cabelo após a mordida nos beiços, mas nunca conversamos sobre o episódio.
Segui a reunião com os lábios rígidos e descascando, que se hidratassem depois!
Já pensou se fosse no tempo do coque? Aí teria cabelos pra jogar ao vento!
ResponderExcluirMomento difícil mas sugiro uma aproximação com esse pai, que deveria estar tão nervoso quanto você 😉
ResponderExcluirAh, Samuel, kkkkkkk! Só consigo pensar em uma coisa: quem será esse pai?
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